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As Leis do Criador
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Nicolas Camille Flammarion (1842 - 1921) Astrônomo, pesquisador e popularizador da astronomia, recebeu notórios prêmios científicos e foi homenageado com a nomenclatura oficial de alguns corpos celestes. foi um homem cujas obras encheram de luzes o século XIX. |
O Cometa – Agente da Vida Universal
Se o homem não aproveita o que o impele a própria perfeição, dispersa suas energias, ao em vez de se deslocar no meio de semelhantes, como os mundos no meio de estrelas, vai apenas seguindo sua marcha normal, no arrastão das coisas.
É preciso que o homem não vacile, e que a lei da vontade soberana o empolgue para que penetre consciente, seguramente, os mistérios universais. Ninguém duvide um instante nem pense que alem da atividade do corpo possa residir um mistério insondável. As leis criadas por Deus, a Suprema Inteligência das coisas, vieram positivas; não foram feitas para permanecer num mistério, num estado inatingível à inteligência mais aguçada e ao espírito mais evoluído. Elas se revelam e é somente para se revelarem na evolução dos espíritos que existem.
Para o incógnito, para o imprestável, para o inútil, nada se fez. Tudo quanto o universo encerra é revelação imediata ou remota das leis. O que é necessário é que o homem por si, impulsionado pela força de sua vontade na orbita maravilhosa de sua ascensão, conquiste palmo a palmo o premio de sua própria vitória. Os astros circulando, gravitando em torno de outros maiores, outros mais fortes, mais luminosos, menos densos, vão realizando um trabalho de aperfeiçoamento incontrastável. |
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A observação astronômica constatou que essas orbitas ou esses caminhos descritos pelos astros em torno de seus centros de gravitação são uma curva fechada, uma elipse, da qual o centro de atração ocupa um dos focos. Hoje a observação mais acurada pode revelar que as orbitas dos planetas são numa curva, não fechada, de forma elíptica, mas espiral, que faz que os astros gravitantes cada vez mais se aproximem do todo que os atrai. É a lei da evolução.
É a lei da evolução. Se eternamente desenvolvesse a forma elíptica, na curva fechada, a meta seria para eles inatingível, A evolução com o circular da orbita resultaria fator inútil, apenas um equilíbrio de duas forças. É preciso, para que haja evolução real, que os astros se aproximem de seu centro, que os homens, guiados pela vontade, se aproximem da perfeição...
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Se observarmos fenômenos cósmicos, fenômenos naturais na própria Terra, vemos que o todo é integrado de fenômenos parciais perfeitamente definíveis. Para que o universo se integre em seu aperfeiçoamento na trilha da sua própria evolução é necessário que nos sistemas parciais não exista trabalho estático e, portanto inútil, que não realize escalada para perfeição. As obras conduzem ao sentimento. Os astros circulando, gravitando em torno de outros maiores, outros mais fortes, mais luminosos, menos densos, vão realizando um trabalho de aperfeiçoamento incontrastável.O caminho circular da espiral é a síntese; é o símbolo de todas as evoluções universais. E os astros, seres evolutivos, como evolutivos são os espíritos, também tem seus rumos. Não poderia ser de outra maneira, porque nada se fez para inutilidade, que seria a perdição dentro do universo. |
Tudo se transforma e a evolução espiral, dentro das orbitas, aperfeiçoando a vida dos astros em constante transformação, revela o aperfeiçoamento das coisas. Sim, meus irmãos, porque tudo se transforma, mas num sentido ascensional. Ninguém suponha que a transformação geral e perene das coisas, que o filósofo anteviu, seja indiretamente ascensional ou, por vezes, estagnaste. Seria a negação da própria obra, porque, em resultante media, nem a evolução conduziria para cima nem para baixo. Resultaria na inutilidade, na negação da lei.
É, portanto movimento ascensional. Caracteriza-se a transformação das coisas, na frase do filosofo pela vigência constante da lei. E é por esse trabalho evolutivo que os astros tentam se aproximar de seus centros. O homem pelas azas da astronomia até hoje revelada, astronomia que tem seduzido tantos espíritos enamorados das coisas belas, percebe, apenas, as formas, porque os recursos dessa astronomia não alcançam todos os segredos do Cosmos, nem podem eles ser percebidos. Seria o complemento da obra e, ainda, não atingiria a perfeição. Fica, portanto a astronomia contemporânea diante de muitos problemas a que não pode fazer face imediatamente. Se, queremos, numa observação geral, caracterizar fatos, podemos dizer que estes são a revelação dos cometas.
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Conhecemos – conhecem os astrônomos da Terra – uma série de cometas que visitam periodicamente o nosso sistema solar. Vem de longe, de lugar tão remoto que a astronomia não pode dizer de onde vêm e penetrando todas as orbitas, atravessando-as até a proximidade sol enlaçam-no em seu giro e se retiram para onde também não se sabe. |
Sabe-se apenas que o astro nos visita periodicamente e pelo estudo dos intervalos entre as visitas periódicas do astro, pode-se prever mais ou menos a extensão de sua orbita. A lei, porém, que tivesse determinado na elipse da orbita desses cometas um afastamento tão grande, um achatamento tão característico, uma diferenciação intensa entre os dois eixos, não é percebida. Porque estando sujeitos pela mesma lei de gravitação universal os planetas e os cometas ao centro, que orbitas elíptica, quase afetando a forma de circunferência e os cometas de tão alongadas parecendo que seguem linhas paralelas na ida e na volta?
Que determinaria isso? Por que o afastamento tão grande dos focos das elipses, das orbitas planetárias? Por uma razão muito simples. Se não é possível ainda a nós estabelecer com precisão a lei que preside o fenômeno, podemos, no entanto, asseverar-vos que esses planetas são o ponto de contato entre dois remotos sistemas solares. Um e outro, distantes, longínquos. O cometa tanto obedece à atração de um, varando-lhes as orbitas planetárias, contornando o centro, como obedece à atração do outro no máximo afastamento da sua orbita. Os dois sois a que ele periodicamente visita ocupam os focos da elipse de sua orbita. E então, se os planetas descrevem elipses, das quais o sol ocupa um dos focos, os cometas também o fazem, mas com os focos ocupados por dois centros de atração de sistemas.
Portanto, um dos centros de orbita planetária é ocupada por um sol; ao passo que da orbita cometária, os dois focos são dois sois. Por que esses cometas vão aproximar dois sistemas solares? Por acaso? Surgiram porventura com uma displicência extraordinária, podendo hoje visitar um sistema e amanhã outro sem a mínima lógica? Não. Nós já vos dissemos uma vez que a força de atração das matérias é inversamente proporcional à densidade de suas massas e por essa razão os planetas nada mais fazem do que ligar dois sistemas solares cuja densidade média das matérias em atração no conjunto se assemelham ou se igualam. Então os cometas procuram aproximar como um sinal de igualdade (tão próximo são os dois rumos de ida e volta de sua orbita) dois sistemas cuja densidade media se aproxima ou se equivale.
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Esta é a lei fundamental. Por esta razão a distancia, o tempo decorrido na ida e na volta do cometa une sistemas solares. Mas energias de uns a outros fazem papel do guia que acompanha passo a passo aqueles que deles necessitam. O cometa nada mais é do que um núcleo condutor de energias vivificadoras |
O cometa é, pois, condutor de fluidos da natureza. Ninguém procure na constituição dos planetas ver um amontoado de gazes perigosos, constituindo sua cauda. Nada. Apenas um fenômeno de luminosidade, porque ele é de fluido necessário à vitalidade dos mundos de cuja orbita atravessa. É, portanto o cometa um agente de vida universal, um harmonizador do equilíbrio. Tira energia de quem a tinha de mais, leva-a a quem a tinha de menos. Com este fato dos cometas, muitos outros existem no universo. A linha das atrações sempre para os corpos maiores dentro da lei newtoniana, em que a massa agia como força diretamente proporcional a atração, a continuidade do giro em torno de corpos cada vez maiores seriam substituídos por novos, por um giro, em torno de corpos cada vez menos densos, considerando essa mesma lei newtoniana.
Palestra realizada na Cabana de Lysis, 1 de fevereiro de 1932.
Orador: Flammarion.
Psicografia: Gustavo M. Pontes.
Taquigrafos: João Balthazar.
Novo Horizonte - nº 3 e 4 março/abril 1933.